Os quatro oficiais da Polícia Militar de
Pernambuco presos temporariamente pela Polícia Federal, nesta quinta (09),
tiveram participação efetiva nas fraudes de recursos federais destinados a
ações de reconstrução de cidades pernambucanas atingidas por enchentes, neste
ano e em 2010. A informação foi repassada pela PF, no fim da manhã de ontem,
durante o balanço da Operação Torrentes. São investigadas fraudes que podem
chegar até 30% em contratos que totalizam R$ 450 milhões para compra de comida,
colchões, filtros de água e lonas de proteção para flagelados das cheias na
Zona da Mata Sul do estado.
Os 260 agentes da PF, de 10 estados,
realizaram buscas nos prédios da Casa Militar do governo pernambucano, onde
atuavam os PMs detidos, e da Vice-Governadoria, no Recife. Houve operação
também no Centro de Abastecimento de Pernambuco (CEASA), Coordenadoria de
Defesa Civil (CODECIPE), bem como em imóveis no Recife e em Olinda.
Foram levados para a Justiça Federal em
Pernambuco para a audiência de custódia: o coronel Fábio de Alcântara Rosendo,
o tenente-coronel Laurinaldo Félix do Nascimento, o coronel Roberto Gomes de
Melo Filho e o coronel aposentado Waldemir José Vasconcelos de Araújo.
A PF informou que Laurinaldo era o coordenador
administrativo da Casa Militar na Operação Prontidão, de 2017, e responsável
por pregões de licitação e chefe dos processos na Operação Reconstrução, em
2010, duas ações de auxílio a flagelados das cheias. Fábio Rosendo atuou como
secretário executivo de Defesa Civil em 2017 e participou de comissão de
licitação na CODECIPE, em 2010. Segundo a Polícia Federal, os dois estão sendo
investigados por fraudes em contratos nas duas operações e tiveram envolvimento
nas irregularidades. Roberto Gomes de Melo Filho foi o coordenador de
administração da operação em 2010. Waldemir Araújo atuou como secretário-executivo
da Casa Militar, em 2017.
A PF esclarece que os recursos federais da
Operação Reconstrução foram enviados entre 2010 e 2015 e as verbas da Operação
Prontidão chegaram a partir de junho deste ano, após as cheias ocorridas em
maio.
Mais alvos - A operação surgiu
a partir de denúncias anônimas envidas à Controladoria Geral da União em
Pernambuco, no ano passado. As primeiras informações davam conta de um esquema
de corrupção envolvendo empresários. Segundo a PF, a 36ª Vara Federal expediu
71 mandados judiciais, sendo 36 de busca e apreensão, 15 de prisão temporária e
20 de condução coercitiva. Também houve uma condução coercitiva no Pará.
Todos os mandados foram cumpridos, com exceção
de um de prisão de temporária, mas o advogado de Ítalo Henrique Silva Jaques
afirmou que o cliente irá se apresentar à polícia na sexta (10). De acordo com
a PF, todos os presos foram levados para audiências de custódia e os que foram
conduzidos coercitivamente foram liberados após serem ouvidos na sede da
Polícia Federal em Pernambuco. As audiências de custódia no prédio da Justiça
Federal em Pernambuco começaram por volta das 16h desta quinta (09) sem
previsão de término.
Além dos quatro militares, outras pessoas
foram presas. Entre elas, estão dois empresários por irregularidades ao
fornecer mantimentos para os flagelados, mediantes contratos fraudulentos:
Antonio Manoel de Andrade Junior e Ricardo José de Padilha Carício, que tinha
sido preso em outubro deste ano, durante a Operação Mata Norte, que investigou
fraudes em licitações de merenda escolar em cidades dessa região pernambucana.
Estão detidos também: Heverton Soares da
Silva, Rafaela Carrazzone da Cruz Gouveia Padilha (esposa do empresário Ricardo
Padilha), Roseane Santos de Andrade, Daniel Pereira da Costa Lucas, Taciana
Santos Costa, Ricardo Henrique Reis dos Santos, João Henrique dos Santos e
Antônio Trajano da Rocha Neto.
Conduções coercitivas - Foram levados para depor quatro oficiais da PM.
Entre eles, o coronel Carlos D’Albuquerque, ex-comandante-geral da corporação
até fevereiro deste ano. Também seguiu para a sede da PF, no Centro do Recife,
o ex-secretário da Casa Militar de Pernambuco coronel Mário Cavalcanti, que
trabalhou com o ex-governador Eduardo Campos, que morreu em um acidente de
avião em 2014.
Os outros militares levados para prestar
depoimento foram o tenente-coronel Jair Carneiro Leão e o capitão Rolney
Feitosa de Souza. Estão na lista de conduções coercitivas outros PMs: o
aposentado Adauto Chaves da Cruz Gouveia Filho, o soldado Patrese Pinto e Silva
e Emmanoel Feliciano Ribeiro. A PF também cumpriu mandados de condução
coercitiva contra civis. Entre eles, destacam-se o empresário Rogério Fabrízio
Roque Neiva e o ex-chefe do CEASA, Romero Fitipaldi Pontual.
Seguiram, ainda, para prestar depoimento:
Karina Carrazzonne Pacífico da Rocha, Diego César Silva Jaques, Josileide Gomes
Neiva, Diego Renato Carneiro de Andrade, Elza Maria José de Santana, Sybelle
Maria de Araújo Lima, Wagner Belizário da Silva, Adriana Padilha Carício
Montenegtro, além de Tertuliano de Oliveira Montenegro e José Walter Alves
Ferreira. Tiago Augusto Silva Jaques foi alvo de condução coercitiva no Pará.
Os contratos - A
Polícia Federal investiga irregularidades em licitações e corrupção envolvendo
verbas encaminhadas pela União. Foram investigados 15 contratos, sendo 12
firmados em 2010 e três neste ano. A PF dividiu a operação em núcleos
distintos: militares, civis e empresários. Embora a investigação ainda não
tenha terminado, já é possível estabelecer, segundo a polícia, a conduta de
alguns alvos da Operação Torrentes.
A corporação explicou que há indícios fortes
contra os militares que foram presos. Em alguns casos, há contratos fechados
com empresas antes mesmo da abertura de licitações. Eram documentos montados,
conforme explicações da PF. Nos casos desses oficiais presos, há assinaturas em
documentos e outros tipos de comprovação.
Condutas - Os oficiais que
atuavam na Casa Militar e foram alvo de conduções coercitivas são investigados
por motivos distintos. A PF explica, por exemplo, que o coronel D’Albuquerque
assinou contratos que estão sob suspeita. Eram, segundo a corporação,
documentos referentes a licitações com empresas que atuavam de forma coligada
ou firmas de fachada.
O caso do coronel Mário Cavalcanti chamou a
atenção da PF e da Controladoria-Geral da União, que também participa da
Operação Torrentes. Os agentes e delegados fizeram uma conexão entre um saque
de R$ 2 milhões, nas vésperas das eleições de 2014, e o oficial, que, na época,
participava da campanha do PSB, partido do governador Paulo Câmara.
A PF explicou, durante o balanço da operação,
que, em 3 de outubro, dois dias antes do pleito, uma pessoa retirou a quantia.
Por meio de registros telefônicos, a corporação identificou que o sacador dos
recursos manteve contato com o coronel Roberto Melo, também alvo da Operação
Torrentes. Esse homem, não identificado, esteve em um imóvel a 200 metros da
residência do oficial.
Melo, por sua vez, momentos depois, seguiu
para a sede do PSB. Na época, o coronel Mário Cavalcanti atuava na área
financeira da campanha. Além disso, ressalta a PF, Cavalcanti convocou toda a
equipe que trabalhou na Operação Reconstrução para uma reunião, logo depois da
deflagração da Operação Mata Norte, na qual foram presos envolvidos na Operação
Torrentes.
Indícios - Durante as
investigações, os agentes da PF e funcionários da CGU identificaram contratos
com irregularidades que chamaram a atenção. Havia, segundo a Polícia Federal,
empenhos para pagamentos de R$ 1 mil por dia para barqueiros circularem pelas
áreas alagadas.
Corrupção - Além dos desvios
e fraudes em licitações, a PF apura casos de corrupção envolvendo empresários,
militares e civis. A corporação destaca que policiais da Casa Militar receberam
dinheiro na conta, que foi repassado por firmas investigadas na operação.
Havia, conforme a PF, militares indicados em balancetes de empresas que estavam
sendo investigadas e tinham tomado empréstimo em nome dessas firmas.
Empresas estavam habilitadas para fornecer
filtros de água, mas participaram do processo licitatório para entregar
banheiros químicos. Além disso, firmas se prontificaram a fornecer colchões em
quantidade muito além da capacidade de compra e armazenamento.
A PF ressaltou que, nesse caso, a empresa
informou que entregaria um número de produtos, que não havia em estoque. E
quando repassou o material para as áreas alagadas, praticou irregularidades,
pois a qualidade era bem inferior ao que havia sido prometido.
Veja a lista de mandados de prisão temporária
cumpridos na operação:
- Coronel da PM Fábio de
Alcântara Rosendo
- Tenente-coronel da PM
Laurinaldo Félix do Nascimento
- Coronel da PM Roberto Gomes
de Melo Filho
- Coronel aposentado da PM
Waldemir José Vasconcelos de Araújo
- Antonio Manoel de Andrade
Junior
- Heverton Soares da Silva
- Ricardo José de Padilha
Carício
- Rafaela Carrazzone da Cruz
Gouveia Padilha
- Roseane Santos de Andrade
- Daniel Pereira da Costa
Lucas
- Taciana Santos Costa
- Ricardo Henrique Reis dos
Santos
- João Henrique dos Santos
- Antonio Trajano da Rocha
Neto
Do: Blog Agreste Notícia
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