É bem possível que ao longo da
vida, uma criança já tenha apresentado sintomas como diarreia, prisão de ventre
e dores na barriga ou estômago. Muitas vezes, esses sintomas estão relacionados
à alimentação e traduzem a resposta do organismo para indicar que algum
alimento não foi bem aceito. Em alguns casos, como em episódios agudos de
constipação intestinal, ou prisão de ventre, como é conhecido popularmente, o
problema também pode estar relacionado às alterações emocionais.
“Se a criança estiver em fase de desfralde, pode ser que ela venha a sentir dificuldade para evacuar e, por isso, evite ir ao banheiro. Também há casos em que ela fica com o intestino solto por conta de alguma fase nova que esteja ocorrendo na vida dela”, explica a gastroenterologista pediátrica, Dra. Soraia Tahan, do Centro de Especialidades Pediátricas do Hospital Samaritano de São Paulo.
“É uma reação emocional do próprio corpo ao lidar com mudanças. Isso ocorre porque o sistema nervoso do intestino, chamado de Sistema Nervoso Entérico, e o Sistema Nervoso Central se comunicam. Dessa forma, as emoções e sentimentos podem causar manifestações clínicas no trato gastrointestinal”, completou.
Não há motivos para se preocupar no caso
desses sintomas serem passageiros e sem repercussões no estado geral da
criança, geralmente com duração de poucos dias. Basta realizar uma dieta
adequada para cada situação e acompanhar a evolução do quadro para evitar
complicações.
Nos casos de intestino preso, a recomendação é
oferecer uma dieta balanceada de acordo com a idade, porém aumentando a
quantidade de fibras e líquidos, essenciais para o amolecimento das fezes e
movimentação do intestino. As fibras estão contidas em alimentos como
feijão e outras leguminosas, tubérculos, legumes, verduras e frutas.
“A criança que come desde cedo frutas, verduras e legumes variados, recebe maiores quantidade de fibras, bem como vitaminas e ferro, adquirindo hábito alimentar saudável que promove o bom funcionamento do intestino”, destaca a especialista.
Em crianças maiores, a ingestão de frutas com
casca e cereais integrais também pode contribuir. Dra. Soraia acrescenta que “uma
dieta rica em fibra só ajuda o intestino a funcionar se for associada ao
aumento do consumo de líquidos, em média de 30%”.
Entretanto, algumas crianças apresentam
persistência do quadro de constipação intestinal, evoluindo para o quadro
crônico. Em estudo realizado pelo John´s Hopkins Children´s Center, nos Estados
Unidos, foi revelado que houve um aumento de 30% no número de casos de crianças
norte-americanas com crises graves e crônicas de constipação. Entre os motivos,
estão a alimentação e hidratação inadequadas.
As crianças também podem apresentar intestino
solto por mudanças na dieta e questões emocionais, porém nessa situação não há
presença de febre e vômitos que indicam infecções intestinais. No caso de
crianças que estejam apresentando problemas com o intestino solto, a orientação
médica é manter a dieta habitual e acrescentar a ingestão de líquidos.
“Só é importante evitar o consumo de sucos industrializados, pois a substância sorbitol, encontrada nesse produto, pode piorar a diarreia”, destaca a especialista.
A prevenção de problemas intestinais como diarreia
e intestino preso inclui hábitos alimentares saudáveis. Estes hábitos devem ser
iniciados desde o nascimento com o aleitamento materno exclusivo até os seis
meses de vida e manutenção do consumo de leite até dois anos ou mais. O leite
materno contém substâncias chamadas de prebióticas (gactoologossacarídeos) que
auxiliam na formação de uma microbiota (flora) intestinal saudável com consequente
eliminação de fezes macias e prevenção da constipação. O leite materno também
possui elementos como a imunoglobulina A, que é um anticorpo que auxilia na
prevenção da diarreia infecciosa. Depois dos seis meses, além do aleitamento
materno, a dieta do bebê deve ser composta de grãos (cereais de feijões),
carnes, legumes, frutas e verduras.
Nos casos de bebês impossibilitados de
receberem o leite materno e que apresentem intestino preso, o médico poderá
indicar fórmulas lácteas que contêm em sua composição substâncias prebióticas
que auxiliam na prevenção da constipação.
Em qualquer fase da vida da criança, devem ser
evitados alimentos que não são nutritivos como enlatados, frituras, balas,
doces, refrigerantes e salgadinhos, pois podem comprometer o estado nutricional
e o bom funcionamento do trato gastrointestinal.
Quando ficar de
olho - Caso os sintomas de intestino solto ou preso e dor
na barriga se tornem persistentes e recorrentes na vida da criança, é hora de
buscar ajuda médica especializada para entender o que está ocorrendo. A
Dra. Soraia explica que os sintomas persistentes de dor abdominal, constipação
e diarreia podem decorrer por conta de desordens gastrointestinais funcionais
ou de doenças orgânicas e somente a avaliação médica poderá discriminar a causa
desses sintomas.
As desordens gastrointestinais crônicas
funcionais são comuns na infância e consideradas funcionais porque nessa
situação não há qualquer alteração orgânica que justifique os sintomas, sem
repercussões no estado geral e nutricional.
“Em contrapartida, nas doenças
gastrointestinais orgânicas, as manifestações clínicas são mais exuberantes e,
geralmente, ocasionam repercussão no estado geral e nutricional”, acrescenta a
especialista.
A Doença Inflamatória Intestinal – DII - é um
exemplo de doença orgânica que se manifesta com sintomas gastrointestinais.
Conhecida como Doença de Crohn e Retocolite Ulcerativa, as
manifestações clínicas desse problema incluem dores abdominais intensas,
diarreia com sangue e muco, além de perda de peso.
“Trata-se de um problema crônico, mas que tem tratamento. Quanto antes o problema for diagnosticado, melhor será a qualidade de vida do paciente”, explica a médica.
E finaliza com a indicação:
“Ao sinal de alterações no funcionamento do intestino que impactam a qualidade de vida da criança, procure auxílio de um especialista para tratar o problema de forma adequada”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário