domingo, 27 de março de 2011

BANHO DE SOL NO INSTITUTO: CORPOS ESTÃO SENDO NECROPSIADOS AO AR LIVRE

Ontem, profissionais manuseavam corpos do lado de fora da sala de necropsia um dia após o Conselho Regional de Medicina (Cremepe) ter anunciado a desinterdição de uma das salas de necropsias do Instituto de Medicina Legal (IML), a cena que se viu pela ma¬nhã na sede do órgão foi, no mínimo, diferente. Apesar de a decisão do Cremepe de liberar a sala de putrefeitos para necropsia, a reportagem da Folha de Pernambuco flagrou profissionais realizando as análises dos corpos ao ar livre.
Segundo um funcionário do órgão que preferiu não revelar o nome, o motivo de também se realizar os trabalhos do lado externo deu-se porque ainda existem muitos corpos para serem necropsiciados. Ainda de acordo com ele, para atender à demanda, os médicos estão realizando as necropsias dentro da sala liberada pelo Cremepe e do lado externo do estabelecimento, nas proximidades da coreia (setor onde ficam os cadáveres em estado de decomposição). Segundo ele, na área próxima da coreia apenas médicos e bombeiros estão autorizados a entrar.
Enquanto o serviço era realizado dentro das instalações do IML, do lado de fora, familiares aguardavam a liberação dos corpos. Esperando há mais de uma semana o corpo do marido, que teve morte natural, a dona de casa Shirley Adriana Gomes Florêncio, 38, não escondia a indignação. “Quan¬do chegamos aqui e pedimos informações os funcionários tratam o meu marido como apenas mais um, e não como ser humano. Tenho três filhos que estão sofrendo muito pela morte do pai e esperando para poder enterrar decentemente ele”, destacou.
A situação de Shirley ainda é pior porque ela não sabe o paradeiro do corpo do marido. “Disseram que o corpo estava liberado no IML. Quando chegamos aqui disseram que o corpo estava no SVO (Serviço de Verificação de Óbito, na Cidade Universitária). Quando meu cunhado foi lá (no SVO) só encontrou os documentos do meu marido, pois disseram que o corpo estava aqui. Antes já era horrível esperar, agora o problema é achar o corpo dele”.
Assim como Shirley, outras famílias encontravam-se na espera da liberação de corpos. Na mesma situação estava Marcelo Antônio de Paiva, 35. Depois de perder o irmão, afogado há mais de dez dias, Marcelo afirma que espera que o corpo seja liberado o quanto antes. “Cheguei cedo para poder resolver a liberação. Estou na expectativa de ter o corpo liberado hoje (ontem)”, informou Marcelo, que até o fechamento des¬ta edição não teve o corpo do irmão liberado.
Procurada para esclarecer se a informação de que os corpos estavam sendo necropsiados também do lado de fora da instituição, a assessoria de Imprensa da Secretaria de Defesa Social (SDS) informou que a informação não procedia. Segundo a assessoria, os procedimentos de identificação das causas de mortes estão sendo realizados somente nas salas liberadas pelo Cremepe com uma equipe de nove médicos legistas. Ainda na manhã de ontem, no SVO, médicos legistas atendiam normalmente os corpos que chegavam à unidade.
De acordo com o balanço divulgado pela SDS, foram necropsiados 11 corpos no SVO e 12 foram entregues aos familiares. No IML, 14 cadáveres passaram por necropsia e 19 foram liberados para os parentes.

Do: Jornal Agreste Notícia

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