Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito o
38º presidente da República neste domingo (28) ao derrotar em segundo turno o
petista Fernando Haddad, interrompendo um ciclo de vitórias do PT que vinha
desde 2002.
A vitória foi confirmada às 19h18min, quando,
com 94,44% das seções apuradas, Bolsonaro alcançou 55.205.640 votos (55,54% dos
válidos) e não podia mais ser ultrapassado por Haddad, que naquele momento
somava 44.193.523 (44,46%). Até o fim da noite, com 99,99% das seções apuradas,
Bolsonaro tinha 57.797.073 votos (55,13%) e Haddad, 47.039.291 (44,87%).
Vale destacar que, 115.931.315 eleitores
estavam hábitos a votar, entretanto, 90,43% deles participaram do processo
eleitoral, percentual que corresponde a 104.836.700 eleitores. 2.486.583 (2,14%)
votaram em Branco e 8.608.032 (7,43%) anularam seus votos. O percentual de
abstenção alcançou 31.370.886 (21,30%).
Em Pernambuco, Bolsonaro obteve apenas 33,50%
dos votos válidos (1.661.163 votos), perdendo para Haddad que obteve 3.297.944
votos (66,50%). No primeiro turno, o Petista teve 48,87% dos votos válidos, ou
seja, 2.309.104 votos, enquanto Bolsonaro foi votado por 1.444.685 eleitores
(30,57%).
Analisando os números, o candidato do PT
conseguiu angariar mais de 1 milhão de votos que foram destinados aos demais
candidatos do primeiro turno, enquanto, Bolsonaro atraiu pouco mais de 200 mil.
No discurso da vitória, Jair Bolsonaro afirmou
que o novo governo será um "defensor da Constituição, da democracia e da
liberdade".
CONHEÇA A HISTÓRIA DE JAIR BOLSONARO
Jair Messias Bolsonaro, nasceu em 21 de março
de 1955 (63 anos) em São Paulo. Formou-se na Academia Militar das Agulhas
Negras em 1977 e serviu nos grupos de artilharia de campanha e paraquedismo do
Exército Brasileiro. Tornou-se conhecido do público em 1986, quando escreveu um
artigo para a revista Veja criticando salários de oficiais militares. Por causa
disso foi preso por quinze dias, mesmo tendo recebido cartas de apoio de
colegas do exército. Foi absolvido dois anos depois.
Bolsonaro ingressou na reserva em 1988, com o
posto de capitão, para concorrer à Câmara Municipal do Rio de Janeiro naquele
ano. Foi eleito vereador pelo Partido Democrata Cristão, partido que seria
extinto em 1993. Em 1990, candidatou-se a deputado federal pelo estado do Rio
de Janeiro. Foi o candidato mais votado, com apoio de 6% do eleitorado
fluminense (464 mil votos), sendo reeleito por seis vezes. Durante seus 27 anos
na Câmara dos Deputados, ficou conhecido por ter uma personalidade controversa,
por conta de suas visões políticas populistas e de extrema-direita, que incluem
a simpatia pela ditadura militar no Brasil (1964–1985) e a defesa das práticas
de tortura por aquele regime.
Bolsonaro anunciou sua pré-candidatura à
Presidência do Brasil em março de 2016 pelo Partido Social Cristão. Em janeiro
de 2018, no entanto, anunciou sua filiação ao Partido Social Liberal (PSL), o
nono partido político de sua carreira desde que foi eleito vereador em 1988.
Sua campanha presidencial foi lançada em agosto de 2018, com o general
aposentado Hamilton Mourão como seu vice na chapa. Ele se apresenta como
defensor dos valores familiares. Em 7 de outubro, Bolsonaro ficou em primeiro
lugar no primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, com o candidato
Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), em segundo. Foi eleito
presidente da República no segundo turno, em 28 de outubro, com 55,13% dos
votos válidos e 99,99% das urnas apuradas.
Infância - Segundo relatos de familiares, Jair Bolsonaro nasceu em
Glicério, um pequeno município no noroeste do estado de São Paulo, e foi
registrado dez meses depois, no dia 1º de fevereiro de 1956, na cidade de
Campinas, onde morava grande parte de sua família de imigrantes italianos e
alemães. Em seu registro de nascimento, todavia, sua naturalidade consta como
sendo Campinas. O nome Jair foi escolhido após sugestão de um vizinho, em
homenagem a Jair Rosa Pinto, meia-esquerda da Seleção Brasileira de Futebol que
fazia aniversário naquele dia e jogava no Palmeiras, time pelo qual Percy
Geraldo Bolsonaro, o pai, torcia. Inicialmente, chamar-se-ia apenas Messias
Bolsonaro porque sua mãe, Olinda Bonturi, após uma gravidez complicada,
atribuía a Deus o milagre do nascimento do filho.
Em sua infância, morou em diversas cidades do
estado de São Paulo. Nos primeiros anos de vida, sua família mudou-se para
Ribeira. Após alguns anos, em 1964, a família mudou-se para Jundiaí nos bairros
de Vianelo e Vila Progresso. Em 1965, mudaram-se para Sete Barras. Finalmente,
em 1966, mudaram-se para Eldorado, no Vale do Ribeira, onde Jair cresceu junto
com seus cinco irmãos.
Genealogia - Bolsonaro é descendente de imigrantes
italianos e alemães, com provável origem portuguesa mais remota também. Pelo
lado materno, Bolsonaro tem ascendência integralmente italiana, e seus avós
eram ambos nascidos na cidade de Luca, na Toscana. Pelo lado paterno, é bisneto
de italianos do Vêneto e da Calábria, tendo também um bisavô originário de
Hamburgo, na Alemanha. A grafia original do sobrenome era Bolzonaro. Segundo
declaração do próprio Jair Bolsonaro, seu bisavô era alemão e foi soldado da
Wehrmacht de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial: "Ele não tinha
opção: ou era soldado, ou era paredão", declarou ele. Todavia, segundo a
genealogia apresentada, Carl “Carlos” Hintze, bisavô de Bolsonaro, nasceu na
Alemanha por volta de 1876 e chegou ao Brasil ainda criança em 1883, cinco
décadas antes do início da Segunda Guerra na Europa, portanto tinha 54 anos
quando Hitler chegou ao poder e 69 anos no fim da Segunda Guerra Mundial, sem
que haja nenhuma evidência que tenha deixado o Brasil nesse período. Seu bisavô
alemão morreu em Campinas em 16 de março de 1969.
Casamentos e filhos - Foi casado com Rogéria Nantes Nunes Braga, a
quem ajudou a eleger vereadora da capital fluminense em 1992 e 1996 e com que
teve três filhos: Flávio (deputado estadual fluminense), Carlos (assim como o
pai e mãe, vereador da cidade do Rio de Janeiro, o mais jovem do país) e
Eduardo. De seu segundo casamento, com Ana Cristina Valle, teve Renan.
Em 2007, conheceu sua atual esposa, Michelle
de Paula Firmo Reinaldo, quando ela era secretária parlamentar na Câmara dos
Deputados. Nove dias após ser contratada, os dois firmaram pacto antenupcial e,
dois meses depois, casaram-se no papel. Em 2013, o casal fez uma cerimônia
religiosa realizada pelo pastor Silas Malafaia. Com Michelle, o deputado teve a
sua primeira filha, Laura. A família mora em um condomínio de luxo na Barra da
Tijuca, no Rio de Janeiro.
Carreira militar - Bolsonaro se interessou pelo Exército aos 15
anos, quando ele e amigos forneceram dicas para os militares sobre possíveis
esconderijos de Carlos Lamarca, que havia montado um campo em Vale do Ribeira
para treinar guerrilheiros contra a ditadura militar.
Aos 18 anos de idade, Bolsonaro entrou para a
Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Porém, após refletir, chegou à
conclusão que deveria ter prestado concurso para a Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN). Então, no final de 1973, após alguns meses na EsPCEx, prestou o
concurso e foi aprovado. Formou-se em 1977.
No final de seu último ano de academia,
integrou a Brigada de Infantaria Paraquedista, onde se especializou em
paraquedismo. Após concluir o curso, foi servir como Aspirante a Oficial no 21º
Grupo de Artilharia de Campanha (GAC) em São Cristóvão, bairro do Rio de
Janeiro. Depois, serviu no 9º GAC em Nioaque, Mato Grosso do Sul, de 1979 a
1981. Nesse último ano, nasce seu primeiro filho, Flávio. No ano seguinte,
1982, cursou a Escola de Educação Física do Exército (EsEFEx) e nasce seu
segundo filho, Carlos.
Após ter se formado na escola, foi servir no
8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista em Deodoro, bairro do Rio de
Janeiro. Foi um dos tenentes responsáveis pela avaliação física dos soldados
que concorriam para o curso de paraquedismo. Em 1987, cursou a Escola de
Aperfeiçoamento de Oficiais (EsAO).
Documentos produzidos pelo Exército Brasileiro
na década de 1980 mostram que os superiores de Bolsonaro o avaliaram como dono
de uma "excessiva ambição em realizar-se financeira e
economicamente". Segundo o superior de Bolsonaro na época, o coronel
Carlos Alfredo Pellegrino, Bolsonaro "tinha permanentemente a intenção de
liderar os oficiais subalternos, no que foi sempre repelido, tanto em razão do
tratamento agressivo dispensado a seus camaradas, como pela falta de lógica,
racionalidade e equilíbrio na apresentação de seus argumentos".
Prisão - Em 1986, quando já servia como capitão, no 8º Grupo de
Artilharia de Campanha Paraquedista, Bolsonaro foi preso por quinze dias após
escrever, na seção "Ponto de Vista" da revista Veja de 3 de setembro
de 1986, um artigo intitulado "O salário está baixo". Para Bolsonaro,
o desligamento de dezenas de cadetes da AMAN se devia aos baixos salários pagos
à categoria de uma forma geral, e não a desvios de conduta, como queria deixar
transparecer a cúpula do Exército. A atitude de seus superiores levou à reação
de oficiais da ativa e da reserva, inclusive do General Newton Cruz, ex-chefe
da agência central do Serviço Nacional de Informações (SNI) no governo João
Figueiredo. Bolsonaro recebeu cerca de 150 telegramas de solidariedade das mais
variadas regiões do país, além do apoio de oficiais do Instituto Militar de
Engenharia (IME) e de esposas de oficiais, que realizaram manifestação em
frente ao complexo militar da Praia Vermelha, no Rio de Janeiro. Foi absolvido
pelo Superior Tribunal Militar (STM) dois anos depois.
Operação Beco Sem Saída - Em 27 de outubro de 1987, Jair Bolsonaro
informou à repórter Cássia Maria, da revista Veja, sobre a operação "Beco
Sem Saída". Na época, Bolsonaro apoiava a melhoria do soldo e era contra a
prisão do capitão Saldon Pereira Filho. A operação teria como objetivo explodir
bombas de baixa potência em banheiros da Vila Militar, da Academia Militar das
Agulhas Negras, em Resende, e em alguns outros quartéis militares com o
objetivo de protestar contra o baixo salário que os militares recebiam na
época.
Bolsonaro teria desenhado o croqui de onde a
bomba seria colocada na Adutora do Guandu, que abastece de água ao município do
Rio de Janeiro. A revista entregou o material ao então Ministro do Exército e
este, após quatro meses de investigação, concluiu que a reportagem estava
correta e que os capitães haviam mentido. Por unanimidade, o Conselho de
Justificação Militar (CJM) considerou, em 19 de abril de 1988, que Bolsonaro
era culpado e que fosse "declarada sua incompatibilidade para o oficialato
e consequente perda do posto e patente, nos termos do artigo 16, inciso I da
lei nº 5836/72". Em sua defesa, Bolsonaro alegou na época que a revista
Veja tinha publicado acusações fraudulentas para vender mais com artigos
sensacionalistas. O caso foi entregue ao Superior Tribunal Militar (STM). O
julgamento foi realizado em junho de 1988 e o tribunal acolheu a tese da defesa
de Bolsonaro e do também capitão Fábio Passos da Silva, segundo a qual as
provas documentais — cujo laudo pericial fora feito pela Polícia do Exército —
eram insuficientes por não permitirem comparações caligráficas, uma vez que
fora usada letra de imprensa. O STM absolveu os dois oficiais, que assim foram
mantidos nos quadros do Exército. Ainda em 1988, Bolsonaro foi para a reserva,
com a patente de capitão, e no mesmo ano iniciou sua carreira política,
concorrendo a vereador do Rio de Janeiro. O laudo da Polícia do Exército, no
entanto, seria mais tarde desmentido pela Polícia Federal, que confirmou a
caligrafia de Bolsonaro.
Carreira política - Em 1988, entrou na vida pública elegendo-se
vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo Partido Democrata Cristão. Assumiu
seu mandato em 1989, ficando apenas dois anos na Câmara Municipal do Rio de
Janeiro. Bolsonaro mostrou-se um vereador conservador, discreto e pouco
participativo. Durante seu mandato, apresentou sete projetos de lei, um dos
quais autorizava o transporte gratuito de militares em ônibus urbanos. Seu
mandato de vereador foi usado principalmente para dar visibilidade às causas
militares.
Em um dos poucos discursos que fez em
plenário, reclamou de uma nota publicada pelo jornal O Dia, que o acusava de
registrar o discurso de colegas vereadores com ataques às Forças Armadas para
enviar aos militares. Em outras ocasiões, Bolsonaro defendeu o controle da
natalidade: "não adianta vir com paliativo, mostrar folhetinhos para a
população carente que é analfabeta", disse. Também falou que não adianta
distribuir camisinhas a moradores de favelas, pois "a molecada vai brincar
de bexiga", e que a contenção da explosão demográfica deve ocorrer
"em cima da classe mais humilde". As palavras do vereador foram
transcritas no Diário da Câmara Municipal, pois na época a Casa não tinha um
canal de televisão.
Nas eleições de 1990, elegeu-se deputado
federal, também pelo PDC. Viriam em seguida outros seis mandatos sucessivos.
Além do PDC, foi filiado a outros oito partidos ao longo de sua carreira
política: PPR (1993-95), PPB (1995-2003), PTB (2003-2005), PFL (2005), PP
(2005-2016), PSC (2016-2017) e o PSL (2018).
Bolsonaro afirmou que já pensou em se filiar
ao Prona, e, em 2017, chegou a conversar sobre sua filiação com o PEN, atual
Patriota, o que não ocorreu.
Na Câmara dos Deputados, Bolsonaro foi titular
da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional e da Comissão de
Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado, e suplente da Comissão de
Direitos Humanos e Minorias.
Desempenho parlamentar - Segundo levantamento do jornal O Estado de
S. Paulo, em 26 anos de atividades no Congresso, Bolsonaro apresentou 171
projetos de lei, de lei complementar, de decreto de legislativo e propostas de
emenda à Constituição (PECs), sendo relator de 73 deles. Segundo a Agência Lupa
— que dá o número total de projetos como 172 — 162 destes foram Projetos de Lei
(PL), um foi Projeto de Lei Complementar (PLC) e cinco foram Propostas de
Emenda à Constituição (PEC); há 470 outras proposições apresentadas pelo deputado,
mas estas não são projetos de lei: tratam-se de emendas a processos em
comissões, indicações de autoridades para que prestem informações em casos
analisados pela Câmara, e mensagens e manifestações em plenário. O parlamentar
conseguiu aprovar dois projetos de lei e uma emenda: uma PEC que prevê emissão
de recibos junto ao voto nas urnas eletrônicas e uma proposta que estende o
benefício de isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para bens
de informática e outra que autoriza o uso da fosfoetanolamina, substância que
ficou conhecida no Brasil como "pílula do câncer" e que testes
demonstraram não ter qualquer efeito contra a doença. O parlamentar justificou
a aprovação de uma única emenda alegando que não recebe apoio suficiente dos
demais congressistas por sofrer "discriminação" por possuir ideais
direitistas.
No caso das urnas eleitorais, a emenda propõe
a impressão de um comprovante, o qual é verificado pelo eleitor na impressora
e, em seguida, depositado, pela própria máquina, em uma urna lacrada. Ele
defende esse sistema para evitar fraudes na contagem de votos e por não existir
"nenhum país no mundo" que use a tecnologia brasileira, insinuando
que as urnas eletrônicas são vulneráveis. Apesar do sistema ser testado
periodicamente e nunca ter sido corrompido, alguns especialistas questionam sua
indefensabilidade. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a
proposta geraria custos adicionais de cerca de 1,8 bilhão de reais aos cofres
públicos. Em junho de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu derrubar o
voto impresso nas eleições de 2018 por entender que isto poderia gerar um risco
de quebra de sigilo e da liberdade de escolha, pela possibilidade de mesários
precisarem intervir em caso de falha da impressão.
Bolsonaro foi o autor de uma Proposta de
Emenda à Constituição (PEC) que prevê que o Sistema Único de Saúde (SUS)
realize cirurgias de laqueadura e vasectomia em maiores de 21 anos que
desejarem realizar o procedimento. Ele argumentou que muitas famílias pobres
não têm dinheiro para fazer cirurgias como essas e que teriam dificuldades em
realizar seu planejamento familiar por esse motivo. Bolsonaro também apresentou
a PL 1411/2011, que descaracteriza crime a recusa, em templos religiosos, de
aceitar ou efetuar cerimônias ou pessoas em desacordo com suas crenças e
liturgias.
Desempenho eleitoral - Nas eleições de 2010, Jair Bolsonaro obteve
cerca de 120 mil votos, sendo o décimo-primeiro deputado federal mais votado do
estado do Rio de Janeiro. Reelegeu-se em 2014, como o deputado federal mais
votado do Rio de Janeiro com 464 572 votos. Em fevereiro de 2017, Bolsonaro
concorreu pela terceira vez ao cargo de presidente da Câmara dos Deputados,
obtendo apenas quatro votos. Ele já disputara o mesmo cargo em 2005 e 2011,
tendo sido derrotado em todas essas tentativas. Em 2017, foi considerado pelo
instituto FSB Pesquisa o parlamentar mais influente nas redes sociais.
Candidatura à presidência (2018) - Jair Bolsonaro candidatou-se à presidência
da República Federativa do Brasil pelo Partido Social Liberal nas eleições
presidenciais de 2018 com General Mourão (do PRTB) como vice, na coligação
"Brasil acima de tudo, Deus acima de todos". Sua candidatura, que
tinha duas contestações, foi deferida por unanimidade pelo Tribunal Superior
Eleitoral (TSE).
Jair Bolsonaro foi o primeiro candidato à
presidência a alcançar o valor de um milhão de reais em doações para campanha
eleitoral por meio do financiamento coletivo. O valor foi alcançado após 59
dias do início da campanha de arrecadação, em 5 de julho, arrecadando-se em
média 17 mil reais por dia. Em 23 de agosto, iniciou sua campanha, gozando de
forte proteção policial e usando colete à prova de balas. Gustavo Bebianno,
então presidente do PSL, declarou à UOL que Jair Bolsonaro estava em nível
máximo de risco.
Obteve 49.276.990 votos no primeiro turno da
eleição, que ocorreu dia 7 de outubro, o que corresponde a 46,03% dos votos
válidos, sendo o mais votado do turno. Como nenhum candidato atingiu 50% dos
votos válidos, o Tribunal Superior Eleitoral convocou o segundo turno da
eleição, disputado entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad do Partido dos
Trabalhadores (PT). Jair Bolsonaro venceu em 16 estados e no Distrito Federal,
ultrapassando 50% dos votos em 13 estados. Jair Bolsonaro foi o candidato mais
votado no primeiro turno da eleição da história, superando o recorde anterior
de Dilma Roussef em 2010, quando obteve cerca de 47 milhões de votos no
primeiro turno.
Atentado durante campanha - No dia 6 de setembro de 2018, Bolsonaro foi
vítima de um ataque a faca durante uma campanha em Juiz de Fora, Minas Gerais.
Foi atingido no abdômen e necessitou passar por um procedimento de laparotomia
exploratória na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Adélio Bispo de
Oliveira, identificado como o autor do crime e posteriormente preso, declarou,
no boletim de ocorrência, que fê-lo "a mando de Deus". Adélio foi
filiado ao PSOL entre 2007 e 2014; o partido emitiu uma nota classificando o
atentado como "um grave atentado à normalidade democrática e ao processo
eleitoral". A arma do crime foi recuperada.
Os demais candidatos à presidência Álvaro
Dias, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos, Henrique Meirelles, João
Amoêdo, Marina Silva, Cabo Daciolo, João Goulart Filho e Vera Lucia repudiaram
o ataque através de redes sociais. O presidente da República, Michel Temer,
classificou-o como "intolerável". A ex-presidente Dilma Rousseff
referiu-se ao ataque como lamentável e relacionou a motivação do crime com
opiniões defendidas pelo candidato.
Manifestações - Em 29 de setembro de 2018, usando a hashtag
#EleNão, um movimento iniciado nas redes sociais por mulheres contrárias às
propostas do candidato reuniu expressivas manifestações de rua durante a
campanha presidencial de 2018. As manifestações contaram com cerca de 500 mil
pessoas, segundo os organizadores do evento, e aconteceram em mais de 160
cidades de todos os estados do país e também em cidades como Nova Iorque,
Barcelona, Berlim, Lisboa e Paris.
No dia 30 de setembro, foram organizados atos
de apoio ao candidato. Em Brasília, a campanha organizou uma carreata que
contou com 25 mil carros, de acordo com a Polícia Militar. Em São Paulo, um ato
ocupou quatro quarteirões da avenida Paulista, não tendo sido divulgados os
números oficiais de manifestantes. De acordo com os organizadores do evento, o
número teria chegado a 1,8 milhão, estimativa esta considerada não realista, já
que em uma manifestação anterior pelo impeachment de Dilma Rousseff, que ocupou
toda a avenida, o instituto Datafolha estimou uma aglomeração de quinhentas mil
pessoas.
Principais posições - Tornou-se conhecido por suas posições
populistas, por suas críticas à esquerda, por ter classificado a tortura como
uma prática legítima, por posições contrárias aos direitos LGBT e por várias
outras declarações controversas, as quais lhe renderam cerca de 30 pedidos de
cassação e três condenações judiciais.
Costuma defender também a ditadura militar de
1964. Em 2011, Bolsonaro condenou a iniciativa do Palácio do Planalto, sob a
liderança de Dilma Rousseff, de aprovar o grupo de trabalho que teria por
função examinar as violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura
para "efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a
reconciliação nacional". Esse grupo de trabalho chamava-se Comissão
Nacional da Verdade, ou apenas "Comissão da Verdade". O parlamentar
criticou particularmente um trecho do artigo 4º do projeto que cria a comissão
e que prevê que "é dever dos militares colaborar com a Comissão da
Verdade". "[...] se é dever, o militar que não colaborar e não disser
o que eles querem ouvir pode ser preso, sim. Essa é uma farsa, uma mentira. É
um projeto que caminha apenas para apurar o que eles querem", disse
Bolsonaro ao interromper uma entrevista coletiva.
Apesar de seus posicionamentos serem
amplamente classificados na extrema-direita do espectro político, o parlamentar
rejeita tal categorização. Inicialmente, Bolsonaro não via a si mesmo como
representante do espectro ideológico de direita, chegando a ocupar a tribuna da
Câmara dos Deputados, em 12 de março de 1999, para tecer elogios à deputada
federal Luiza Erundina, filiada ao PSB e sempre reconhecida como um quadro de
esquerda.
Minorias - Bolsonaro já condenou publicamente a homossexualidade e
se opõe à aplicação de leis que garantam direitos LGBT, como o casamento entre
pessoas do mesmo sexo, a adoção de filhos por casais homossexuais, e a
alteração no registro civil para transexuais.
O parlamentar também discorda da aplicação de
ações afirmativas, como cotas raciais para afro-brasileiros: em 2006, como
forma de protesto contra a formulação de políticas de cotas nas universidades públicas,
o deputado apresentou um projeto de lei complementar na Câmara dos Deputados,
propondo o estabelecimento de cotas para deputados negros e pardos, admitindo,
em seguida, que, se o projeto fosse à votação, seria contra ele.
Ao ser questionado se aumentaria a
participação feminina em um eventual governo, Bolsonaro respondeu: "Tem
que botar quem dê conta do recado. Se botar as mulheres vou ter que indicar
quantos afrodescendentes?".
Durante sua campanha presidencial em 2018, ao
ser questionado sobre se o combate ao preconceito poderia ser uma política de
governo, Bolsonaro declarou que acabaria com o coitadismo no Brasil. Segundo
ele, tudo se tornou coitadismo: "Coitado do negro, coitada da mulher,
coitado do gay, coitado do nordestino. Coitado do piauiense. Tudo é coitadismo
no Brasil, nós vamos acabar com isso".
Posse de armas, drogas, pena de morte e
tortura - O parlamentar defende a
revogação do Estatuto do Desarmamento e defende que o proprietário rural tenha
direito de adquirir fuzis para evitar invasões do Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra (MST). Além disto, também apresentou um projeto de lei que
estabelece a castração química voluntária como condição para que uma pessoa
condenada por estupro possa progredir o regime de pena. Ele se posiciona de
forma contrária à legalização das drogas e, em entrevista dada ao programa CQC
em abril de 2011, reiterou afirmações anteriores sobre o tema ao ser
questionado sobre como reagiria caso seu filho fosse usuário de drogas:
"Daria uma porrada nele, pode ter certeza disso".
Em várias entrevistas, Bolsonaro também se
posicionou favoravelmente à instituição da pena de morte no Brasil para casos
de crimes premeditados, pois, segundo ele, "o bandido, ele só respeita o
que ele teme". Também é a favor da redução da maioridade penal para 16
anos.
Em 2000, Jair Bolsonaro defendeu, numa
entrevista à revista IstoÉ, a utilização da tortura em casos de tráfico de
droga e sequestro, bem como a execução sumária em casos de crime premeditado.
Ele justifica seu posicionamento afirmando que "o objetivo é fazer o cara
abrir a boca" e "ser arrebentado para abrir o bico". Nesta
entrevista, Bolsonaro ainda defende a censura, embora não especifique de qual
tipo. Apesar destas afirmações, o político afirmou recentemente que nunca teria
sido favorável à tortura.
Economia - Bolsonaro
defendeu, durante os governos de Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva,
posições econômicas desenvolvimentistas e antiliberais, herança da ditadura militar no Brasil,
votando junto com o Partido dos Trabalhadores em
diversos temas econômicos. Em 2000, ao explicar ao apresentador Jô Soares por que defendeu o fuzilamento do então presidente Fernando Henrique, disse
que "barbaridade é privatizar a Vale e as telecomunicações, entregar as nossas reservas
petrolíferas ao capital externo".
Por outro lado, desde 2016, Bolsonaro tem
apoiado medidas econômicas liberais. Votou na
abertura do pré-sal, afirmou que o "livre-mercado é a mãe da liberdade", e, em uma
entrevista, disse que "deve ser privatizado o máximo que puder" e que
se opôs somente a forma como a Vale foi privatizada.
Em uma
entrevista à jornalista Mariana Godoy, quando questionado sobre seu posicionamento em
relação ao tripé macroeconômico, o então pré-candidato à
presidência respondeu que quem falaria sobre economia por ele no futuro seria
sua equipe econômica. Em novembro de 2017, durante uma entrevista,
Bolsonaro disse que, caso se torne presidente do Brasil, nomeará
para o ministério da fazenda o economista liberal Paulo Guedes. Em
entrevista de 2018, afirmou que "não gostaria" de privatizar a
Petrobras, mas que o faria se "não encontrasse [outra] solução". Em
maio de 2018, defendeu a flexibilização de direitos trabalhistas e
afirmou: "Aos poucos a população vai entendendo que é melhor menos
direitos e emprego do que todos os direitos e desemprego".
Segundo o cientista político Fernando Schuler,
as mudanças de discurso de Bolsonaro seriam explicadas pela ascensão de sua
popularidade. Segundo Schuler, "todo candidato, quando cresce, tende ao
centro". Para o economista e filósofo Joel Pinheiro da Fonseca,
o discurso econômico de Bolsonaro seria uma "roupagem liberal", usada
também, segundo o economista, por Lula e outros políticos no passado.
Outros posicionamentos - Em entrevista ao quadro Dois dedos de prosa
do Programa do Ratinho, Bolsonaro foi questionado sobre sua opinião acerca da
unificação das polícias militar e civil. Em resposta, o político afirmou que
não a apoia, justificando que "a polícia civil tem uma função e a polícia
militar tem outra", que "se as polícias forem unificadas, serão
tirados os uniformes delas", e que "terão problemas infindáveis
nisso".
Em 2016, se posicionou contrário à anistia ao
caixa 2, uma emenda articulada principalmente por partidos e parlamentares
envolvidos na Operação Lava Jato, para anistiar crimes de caixa 2. Em outubro
de 2016, o parlamentar participou de um evento em Brasília em apoio à liberação
da vaquejada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
CONTROVÉRSIAS
Acusações de corrupção - O nome do deputado está registrado na
chamada Lista de Furnas, um suposto esquema de corrupção que usou dinheiro de
caixa dois para abastecer 156 campanhas políticas no ano 2000. Apesar de o
parlamentar alegar que a lista é falsa, sua autenticidade foi comprovada por um
laudo da Polícia Federal. O processo segue em segredo de Justiça.
Em consulta aos doadores e fornecedores de
campanha de candidatos, no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o nome de
Bolsonaro apareceu como recebedor de 200 mil reais da empresa JBS durante sua
campanha em 2014. Naquele ano, Bolsonaro foi reeleito deputado federal com o
maior número de votos no Rio de Janeiro, recebendo mais de 460 mil votos. Uma
reportagem da Veja trouxe a questão à tona em março de 2017 dada a repercussão
da Operação Carne Fraca. O político postou um vídeo em seu canal do YouTube,
onde explicou que os 200 mil reais, metade do valor gasto em sua campanha, foram
devolvidos como "doação ao partido". No entanto, na planilha do TSE,
o mesmo valor voltou à conta de Bolsonaro, mas desta vez em uma doação feita
pelo fundo partidário.
Entre 2010 e 2014, o patrimônio do deputado
cresceu mais de 150%, segundo a declaração registrada no TSE. Neste período, o
parlamentar adquiriu cinco imóveis que, juntos, valem 8 milhões de reais, entre
eles duas casas na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, compradas por 500 mil e
400 mil reais, respectivamente, valores muito abaixo do avaliado pela
prefeitura carioca na época. O Conselho Federal de Corretores de Imóveis (COFECI)
afirma ter "sérios indícios" de que a operação de compra tenha
envolvido lavagem de dinheiro. Em sua defesa, Bolsonaro alegou que Rodrigo
Janot, ex-procurador Geral da República, arquivou uma denúncia anônima sobre
sua declaração de bens em 2014. Afirmou, ainda, que as acusações são
"calúnias" e parte de uma "campanha para assassinar sua
reputação". Em 28 de setembro de 2018, uma reportagem publicada pelo
jornal O Globo informou que Bolsonaro deixou de declarar 2,6 milhões de reais à
Justiça Eleitoral, valor referente às duas casas no Rio.
Em abril de 2017, Bolsonaro foi denunciado por
usar a cota parlamentar para pagar viagens pelo país em que se apresenta como
pré-candidato à Presidência em 2018. A cota reembolsa viagens e outras despesas
do mandato. Em cinco meses, entre 2016 e 2017, ao menos seis viagens do
deputado foram custeadas pela Câmara por um total de 22 mil reais. A assessoria
de imprensa do parlamentar negou as acusações, alegando que o uso da cota
estava relacionado à participação na Comissão de Segurança Pública da Câmara,
da qual o congressista era suplente. O parlamentar também recebe da Câmara
cerca de 3 mil reais de auxílio-moradia desde 1995, apesar de ter um
apartamento de dois quartos em Brasília desde 1998. Ao ser questionado pela
Folha de S. Paulo sobre como usou o dinheiro deste benefício, respondeu:
"Como eu estava solteiro naquela época, esse dinheiro do auxílio-moradia
eu usava para comer gente.
Uma reportagem da Folha de S. Paulo, feita em
janeiro de 2018, denunciou que o deputado contratava uma servidora
"fantasma" em Brasília. Segundo a matéria, entre janeiro e junho,
Walderice Santos da Conceição recebeu mais de 17 mil reais como funcionária do
gabinete do parlamentar na Câmara dos Deputados, embora trabalhasse como
vendedora de açaí no município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Desde
2003, a secretária figurava como um dos 14 funcionários do deputado na capital
federal, com um salário bruto de 1.416,33 reais. Em agosto de 2018, Bolsonaro
anunciou que Walderice havia pedido demissão do emprego de assessora e afirmou
que o "crime dela foi dar água para os cachorros".
Em 19 de outubro, o Tribunal Superior
Eleitoral, após pedido do Partido dos Trabalhadores, iniciou uma investigação
com base em uma reportagem do jornal Folha de S.Paulo, segundo a qual empresas
pagaram, em contratos que chegariam a 12 milhões de reais, pelo envio em massa
de notícias falsas contra o candidato petista no aplicativo WhatsApp para
favorecer a campanha presidencial de Bolsonaro. A defesa de Bolsonaro diz que a
campanha do candidato foi falsamente acusada, e que tomaria "as medidas
judiciais cabíveis". Segundo o PT, o ato consistiria na prática de caixa
dois.
Democracia, Estado laico e ditadura militar - Em entrevista de 2 de dezembro de 1998 à
revista Veja, o parlamentar afirmou que a ditadura chilena de Augusto Pinochet,
que matou mais de 3 000 pessoas e exilou outras 200 000, "devia ter matado
mais gente". Ele também elogiou Alberto Fujimori, presidente do Peru, como
um "modelo" pelo uso de uma intervenção militar contra o judiciário e
o legislativo. Em 1999, o deputado afirmou ao programa Câmera Aberta que era
"favorável à tortura" e chamou a democracia de "porcaria".
Se fosse presidente do país, respondeu que não havia "a menor dúvida"
de que "fecharia o Congresso".
O deputado federal também é conhecido por
alegar que a ditadura foi uma época "gloriosa" da história do Brasil
e que o Golpe de 1964 foi uma "intervenção democrática" fruto da
"pressão popular" e que, em 1968, grupos oposicionistas começaram a
atacar com táticas de guerrilha. Em carta publicada no jornal Folha de S.Paulo,
referiu-se ao período militar como "20 anos de ordem e progresso".
Também afirmou, durante uma discussão com manifestantes em dezembro de 2008,
que "o erro da ditadura foi torturar e não matar".
Bolsonaro foi criticado pelos meios de
comunicação, por políticos e pelo Grupo Tortura Nunca Mais, sobretudo depois de
ter afixado na porta de seu escritório um cartaz que dizia aos familiares dos
desaparecidos da ditadura militar que "quem procura osso é cachorro".
Em 17 de abril de 2016, Jair Bolsonaro parabenizou o deputado Eduardo Cunha
pela forma como conduziu o impeachment de Dilma Rousseff e usou seu discurso de
voto sobre o impedimento para homenagear Carlos Alberto Brilhante Ustra, o
primeiro militar a ser reconhecido pela Justiça como um dos torturadores
durante a ditadura militar. Em sua defesa, Bolsonaro alegou que as declarações
durante a votação do impeachment estão protegidas pela imunidade parlamentar.
Em entrevista de 2018, voltou a defender Ustra, chamando-o de "herói
nacional".
Em 2015, em vídeo postado por seu filho, o
também deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), o parlamentar fluminense afirmou
que "violência se combate com violência e não com bandeiras de direitos
humanos", como as defendidas pela Anistia Internacional, que ele afirmou
ser formada por "canalhas" e "idiotas". Questionado sobre
um levantamento da organização que mostrou que a polícia brasileira é a que
mais mata no mundo, Bolsonaro respondeu que acha que a "Polícia Militar do
Brasil tinha que matar é mais". Em um discurso em Campina Grande, em
fevereiro de 2017, o deputado criticou o Estado laico ao dizer: "Deus
acima de tudo. Não tem essa historinha de Estado laico não. O Estado é cristão
e a minoria que for contra, que se mude. […] as minorias têm que se curvar para
as maiorias".
Em 2014, o jornalista estadunidense Glenn
Greenwald, que em parceria com Edward Snowden levou a público a existência dos
programas secretos de vigilância global da Agência de Segurança Nacional dos
Estados Unidos, referiu-se a Bolsonaro como "o mais misógino e detestável
funcionário público eleito no mundo democrático". A revista britânica The
Economist classificou o deputado como "radical", "religioso
nacionalista", "demagogo de direita", "apologista de
ditadores" e como uma "ameaça à democracia".
Mulheres - Em 2003, o deputado afirmou que não estupraria a
parlamentar Maria do Rosário porque ela "não merece" em uma discussão
sobre maioridade penal durante entrevistas sobre o Caso Liana Friedenbach e
Felipe Caffé. O registro mostra Rosário a declarar: "O senhor é que
promove essas violências. Promove, sim". Em seguida, Bolsonaro diz:
"Grava isso aí, grava isso aí, me chamando de estuprador". Rosário,
ao fundo, afirma: "É, sim, é". Jair Bolsonaro, então, diz:
"Jamais estupraria você porque você não merece". Em dezembro de 2014,
durante uma discussão no plenário da Câmara dos Deputados, Bolsonaro repetiu a
ofensa. A briga ocorreu após ela dizer que a ditadura militar foi
"vergonha absoluta" para o Brasil. Em um vídeo em sua defesa sobre o
caso no mesmo ano, Bolsonaro alegou que sua fala foi "uma resposta
reflexa": "Foi uma palavra proferida por mim a ela em cima da
acusação de estuprador", afirmou. Ao ser questionado sobre a declaração à
Rosário em uma entrevista de fevereiro de 2015, Bolsonaro disse ao jornal Zero
Hora: "Ela não merece [ser estuprada] porque ela é muito ruim, porque ela
é muito feia. Não faz meu gênero. Jamais a estupraria".
Em virtude das declarações feitas durante as
discussões com Maria do Rosário, Bolsonaro foi condenado em primeira instância
por danos morais em setembro de 2015. Em junho de 2016, o Supremo Tribunal
Federal (STF), ao analisar denúncia da Procuradoria Geral da República e queixa
da própria deputada, decidiu abrir duas ações penais contra o deputado
Bolsonaro. Em uma decisão por quatro votos contra um, a Segunda Turma do STF
entendeu que, além de incitar a prática do estupro, Bolsonaro ofendeu a honra
da colega. Como resultado, o deputado tornou-se réu pela suposta prática de
apologia ao crime e por injúria. A denúncia contra Bolsonaro por apologia ao
crime foi apresentada em dezembro de 2014 por Ela Wiecko
(vice-procuradora-geral da República), e caso condenado, ele pode ser punido
com pena de 3 a 6 meses de prisão, mais multa. Em 15 de agosto de 2017, o
Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão da primeira instância e
determinou que o parlamentar pague uma indenização de 10 mil reais para Maria
do Rosário.
Na entrevista concedida ao Zero Hora em 2015,
o deputado afirmou que não acha justo que mulheres e homens recebam o mesmo
salário porque as mulheres engravidam, alegando que o direito à
licença-maternidade prejudica a produtividade do empresário. Em 2016, em
entrevista à apresentadora Luciana Gimenez na RedeTV!, ele falou sobre o que
tinha dito ao jornal gaúcho: "eu não empregaria [homens e mulheres] com o
mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente". Em abril de 2018,
em entrevista concedida a José Luiz Datena, na TV Bandeirantes, voltou a falar
sobre o tema: "Se houve um mal entendido em 2016, paciência",
afirmou. Ao ser questionado sobre sua opinião atual sobre a diferença salarial
entre homens e mulheres, disse que não tem nenhuma.
Em abril de 2017, em um discurso no Clube
Hebraica, no Rio de Janeiro, Bolsonaro fez uma piada sobre sua filha Laura,
então com 6 anos, ao dizer "Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens, aí
no quinto eu dei uma fraquejada e veio uma mulher". A fala gerou uma
repercussão negativa nas redes sociais.
Homossexuais - Na Folha de S. Paulo, em maio de 2002, disse
que poderia agredir homossexuais: "não vou combater nem discriminar, mas,
se eu vir dois homens se beijando na rua, vou bater". No mesmo jornal, em
novembro de 2010, Bolsonaro defendeu surras em filhos homossexuais: "Se o
filho começa a ficar assim, meio gayzinho, [ele] leva um couro e muda o
comportamento dele". Em uma entrevista concedida ao Jornal de Notícias em
2011, o então deputado federal associou a homossexualidade à pedofilia,
afirmando que "muitas das crianças que serão adotadas por casais gays vão
ser abusadas por esses casais homossexuais". Além disto, alegou que o
Brasil não precisa de uma legislação específica contra a homofobia porque
"a maioria dos homossexuais é assassinada por seus respectivos cafetões, em
horários em que o cidadão de bem já está dormindo".
Em uma entrevista à revista Playboy, em junho
de 2011, Bolsonaro afirmou: "Seria incapaz de amar um filho homossexual.
Não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente
do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo".
O parlamentar também afirmou que se um casal homossexual fosse morar ao seu
lado isto iria desvalorizar sua casa. Em julho do mesmo ano, durante uma
entrevista para leitores da revista Época, disse que "se lutar para
impedir a distribuição do 'kit gay' nas escolas de ensino fundamental com a
intenção de estimular o homossexualismo, em verdadeira afronta à família é ser
preconceituoso, então sou preconceituoso, com muito orgulho".
No documentário Out There, feito pelo ator e
comediante britânico Stephen Fry e exibido na BBC em 2013, o deputado declarou
que "nenhum pai tem orgulho de ter um filho gay" e que "nós,
brasileiros, não gostamos dos homossexuais". Em março de 2016, a atriz
norte-americana Ellen Page divulgou uma entrevista concedida por Bolsonaro em
2015 e que faz parte de um episódio que trata sobre a homofobia no Brasil. Na
entrevista, o deputado disse que o número "crescente" de gays assumidos
se deve "às liberalidades, às drogas e à mulher também trabalhando".
Em 9 novembro de 2017, o Tribunal de Justiça
do Estado do Rio de Janeiro o condenou a pagar uma multa de 150 mil reais por
dano moral coletivo devido a declarações dadas pelo parlamentar em 2011 ao
programa CQC, quando afirmou que "não corre o risco" de ter um filho
homossexual porque seus filhos têm uma "boa educação". A juíza
Luciana Teixeira disse que o deputado abusou do seu direito de livre expressão
para cometer ato ilícito. "Não se pode deliberadamente agredir e humilhar,
ignorando-se os princípios da igualdade e isonomia, com base na invocação à
liberdade de expressão", afirmou a magistrada.
Em 11 de janeiro de 2016, no entanto, quando
já começava a se apresentar como pré-candidato à Presidência do Brasil,
Bolsonaro passou a moderar o discurso sobre os gays ao publicar um vídeo em seu
canal oficial: "Eu não tenho nada a ver com comportamento de quem quer que
seja. Se o homem e a mulher resolver mais tarde ir morar com o companheiro,
formar um par, ir morar com aqueles do mesmo sexo, vá ser feliz. Mas não
podemos admitir, que por omissão nossa do Parlamento, crianças se tornem
homossexuais no futuro, ou tenham esse comportamento homossexual no futuro, por
influência da escola. Isso é inadmissível". Desde então, ele afirma que
não tem nada contra gays e que combate apenas o "kit gay" nas
escolas. No dia 4 de outubro de 2018, por exemplo, Bolsonaro disse: "Cada
um, depois da sua idade, dono de seus atos, vai cuidar da sua vida. Para
crianças de seis anos de idade, não dá. O pai não quer chegar em casa e ver o
seu filho brincando de boneca por influência da escola. Os homossexuais serão
felizes se eu for presidente". No dia 6 do mesmo mês, pouco antes do
primeiro turno das eleições presidenciais brasileiras, afirmou: "Vivemos
aqui do mundo material, aqui na terra, e para quem acredita na questão
espiritual. Vamos fazer um governo para todo mundo. Para os gays, e inclusive
tem gay que é pai, tem gay que é mãe. É um trabalho para todos vocês".
Em 2018, durante as eleições presidenciais, o
Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou a remoção de vídeos que afirmassem
que o livro francês Aparelho Sexual e Cia. (associado por Bolsonaro ao
"kit gay") havia sido distribuído por programas governamentais
enquanto Fernando Haddad ocupava o cargo de Ministro da Educação. A
representação tinha como alvos Jair Bolsonaro e seus filhos Carlos e Flávio
Bolsonaro. Segundo o ministro Carlos Horbach, os vídeos configuram "a difusão
de fato sabidamente inverídico, pelo candidato representado e por seus
apoiadores, em diversas postagens efetuadas em redes sociais" o que
"gera desinformação no período eleitoral, com prejuízo ao debate
político". O ministro acrescenta que o livro não fez parte do programa
Escola sem Homofobia, que sequer chegou a ser executado pelo MEC.
Indígenas e quilombolas - Jair Bolsonaro também questionou a política
indígena do governo brasileiro, em um de seus pronunciamentos a uma audiência
na Câmara dos Deputados, que tratava sobre a questão em Roraima. O deputado
afirmou que o Movimento dos Sem Terra (MST), "apesar de abonado e
constituído por pessoas que falam a nossa língua e são educadas", não
consegue fazer a reforma agrária, enquanto que "índios fedorentos, não
educados e não falantes de nossa língua" possuem 12% das terras
brasileiras e fazem lobby no Congresso Nacional. Os comentários de Bolsonaro
causaram grande indignação no plenário, entre índios, parlamentares e grupos de
defesa de direitos humanos, que consideraram que a fala do parlamentar feria o
princípio de não discriminação da Constituição Brasileira. Sentindo-se
constrangido e ofendido com os comentários do parlamentar sobre a questão
indígena, uma das lideranças do povo sateré-maués presentes na audiência
pública chegou até mesmo a atirar um copo de água na direção do deputado.
Depois de ser atingido pelo copo d'água, Bolsonaro disse: "É um índio que
está a soldo aqui em Brasília, veio de avião, vai agora comer uma costelinha de
porco, tomar um chope, provavelmente um uísque, e quem sabe telefonar para
alguém para a noite sua ser mais agradável. Esse é o índio que vem falar aqui
de reserva indígena. Ele devia ir comer um capim ali fora para manter as suas
origens".
Em abril de 2017, em um discurso no Clube
Hebraica, na zona sul do Rio de Janeiro, o deputado federal disse que irá
acabar com todas as terras indígenas e comunidades quilombolas do Brasil caso
seja eleito em 2018. Ele também afirmou que irá terminar com o financiamento
público para ONGs: "Pode ter certeza que se eu chegar lá (presidência da
República) não vai ter dinheiro pra ONG. Se depender de mim, todo cidadão vai
ter uma arma de fogo dentro de casa. Não vai ter um centímetro demarcado para
reserva indígena ou pra quilombola". Ele também alegou que as reservas
indígenas e quilombolas atrapalham a economia. "Onde tem uma terra
indígena, tem uma riqueza embaixo dela. Temos que mudar isso daí",
afirmou. "Eu fui num quilombo. O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas.
Não fazem nada! Eu acho que nem pra procriador ele serve mais. Mais de 1 bilhão
de reais por ano é gastado com eles".
Após a frase sobre quilombolas, o Ministério
Público Federal do Rio de Janeiro moveu ação civil pública por danos morais
coletivos a comunidades quilombolas e à população negra contra Bolsonaro,
afirmando que ele usou expressões injuriosas, preconceituosas e
discriminatórias com objetivo de ofender e ridicularizar as comunidades
quilombolas e a população negra. Em 3 de outubro de 2017, o deputado foi
condenado a pagar 50 mil reais de indenização por danos morais.
No dia 13 de abril de 2018, a Procuradoria-Geral
da República (PGR) apresentou denúncia contra Bolsonaro pelo crime de racismo.
Na denúncia, a procuradora-geral da República Raquel Dodge pede que o
parlamentar pague 400 mil reais por danos morais coletivos e afirmou que ele
"tratou com total menoscabo os integrantes de comunidades quilombolas
[...] ainda consignou, em comparação, que os japoneses são um povo trabalhador,
que não pede esmola. Assim, evidenciou que, em sua visão, há indivíduos ou
povos superiores a outros, tratando quilombolas como seres inferiores". A
denúncia foi rejeitada pelo STF em 11 de setembro do mesmo ano.
Refugiados - Em setembro de 2015, durante uma entrevista
ao Jornal Opção, de Goiás, disse: "Não sei qual é a adesão dos
comandantes, mas, caso venham reduzir o efetivo das Forças Armadas é menos
gente nas ruas para fazer frente aos marginais do MST, dos haitianos,
senegaleses, bolivianos e tudo que é escória do mundo que, agora, está chegando
os sírios também. A escória do mundo está chegando ao Brasil como se nós não
tivéssemos problema demais para resolver". No discurso no Clube Hebraica
em 2017, afirmou que "não podemos abrir as portas para todo mundo".
No entanto, não se mostrou contrário à entrada de todos os estrangeiros.
"Alguém já viu algum japonês pedindo esmola? É uma raça que tem vergonha
na cara!". Em abril de 2017, a Secretaria Especial de Políticas de
Promoção da Igualdade Racial apresentou uma nota de repúdio pelas declarações
do deputado sobre o tema. Em 2018, Bolsonaro defendeu a criação de "campos
de refugiados" para venezuelanos buscando abrigo no Brasil.
Do: Blog Agreste Notícia
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