Usava um capacete para andar a pé, um cigarro de palha (pacaia) na boca para dar uns tragos e um olhar distante, muito distante de nós... Foi assim que há cerca de quarenta anos, o misterioso Luiz, o conhecido ‘Zé Leitão’ apareceu do nada na Rua Luíza Mendes, no bairro Nova Santa Cruz.
Apaixonado pela vida na rua, fez da rua sua casa, forrou um pano velho e fez das calçadas sua cama, como “quem 'derruba' o teto para ganhar as estrelas”.
Antes de Santa Cruz, ele vivia pelas ruas de Caruaru e possivelmente veio morar aqui porque seu tio, chamado Mariano, antes de morrer, pediu a uma filha, chamada Irene (prima de Zé Leitão), que sempre cuidasse de Luiz, até o fim da vida e Irene veio morar numa casa que fica na mesma rua, mas Luiz não aceitou o convite de morar na casa, pois a rua era sua vida...
Quarenta anos atrás, foi levado para o Hospital da Tamarineira, em Recife (Hospital Psiquiátrico Ulysses Pernambuco), mas, para ele, o hospital era uma prisão insuportável e por ser muito valente, batia nos outros pacientes, por isso foi convidado a se retirar da instituição de saúde. Como ninguém foi buscá-lo, ele saiu sozinho de Recife, a pé, talvez usando um capacete e fumando um velho “pacaia” e chegou novamente em Caruaru.
Nunca gostou de documentos, acredita-se que nunca teve. Seu nascimento é um mistério, seu sobrenome também é, seus pais, sua infância, seu gosto pela vida nas ruas, tudo é cinzento, quase não se sabe.
Foto/Matiara Menezes |
Dizem os mais velhos que ele nasceu em setembro de 1939, no Sítio Reinado, em Caruaru. Se foi registrado, ninguém sabe onde. Se tinha um sobrenome, ninguém sabe qual foi, o que se sabe é que todos os fatos da sua vida são envoltos em mistério.
Pouco habituado ao banho, quando a noite chegava, uma calçada, ao ar livre, era o local ideal para um sono sem preocupação. Há alguns anos, enquanto comia alguns restos de comida que ganhou de alguém, dois cachorros, ou seja, ‘Branco’ e ‘Xôla’, se aproximaram dele e se tornaram seus grandes amigos, pois ‘Zé Leitão’ dividiu com os cães a comida que tinha na marmita e a solidão foi expulsa da sua vida.
Adotou, talvez sem compreender, o antigo ditado popular: ‘É melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro’. ‘Branco’ e ‘Xôla’ passaram a receber um tratamento especial de Luiz, “comendo no mesmo prato, dormindo na mesma cama”. Cada prato de comida que ganhava dividia em três partes: um terço para cada um: ‘Branco’, ‘Xôla’ e ‘Zé Leitão’, como há dois mil anos Jesus pregava no deserto...
Sem nome, sem casa, sem dinheiro, perambulava pelas ruas à margem da sociedade. Enquanto alguns o ignoravam e até jogavam pedras nele, os cachorros e ele dividiam a comida, se defendiam juntos e enquanto Luiz dormia, Ai de quem fosse atrapalhar seu sono! Enquanto a maioria o desprezava achando que ele não valia nada, os cachorros e ele não paravam de dar lições: dividindo comida, dormindo juntos, sendo leais, amigos, sem preconceito...
Se fosse seu contemporâneo, acredito que o advogado norte-americano, George Graham Vest, inspirou-se em Zé Leitão quando atuava num processo da morte do cão Old Drum, em que disse: “O único amigo desinteressado que um homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona, o único que nunca mostra ingratidão ou traição, é o seu cachorro”.
Adotou, talvez sem compreender, o antigo ditado popular: ‘É melhor ter um cachorro amigo do que um amigo cachorro’. ‘Branco’ e ‘Xôla’ passaram a receber um tratamento especial de Luiz, “comendo no mesmo prato, dormindo na mesma cama”. Cada prato de comida que ganhava dividia em três partes: um terço para cada um: ‘Branco’, ‘Xôla’ e ‘Zé Leitão’, como há dois mil anos Jesus pregava no deserto...
Sem nome, sem casa, sem dinheiro, perambulava pelas ruas à margem da sociedade. Enquanto alguns o ignoravam e até jogavam pedras nele, os cachorros e ele dividiam a comida, se defendiam juntos e enquanto Luiz dormia, Ai de quem fosse atrapalhar seu sono! Enquanto a maioria o desprezava achando que ele não valia nada, os cachorros e ele não paravam de dar lições: dividindo comida, dormindo juntos, sendo leais, amigos, sem preconceito...
Se fosse seu contemporâneo, acredito que o advogado norte-americano, George Graham Vest, inspirou-se em Zé Leitão quando atuava num processo da morte do cão Old Drum, em que disse: “O único amigo desinteressado que um homem pode ter neste mundo egoísta, aquele que nunca o abandona, o único que nunca mostra ingratidão ou traição, é o seu cachorro”.
Zé Leitão teve (ou tem) a graça de ter dois! Mas, meses atrás, o apaixonado pelas ruas teve que abandonar, contra vontade, a rua, as calçadas e seus dois grandes amigos: ‘Branco’ e ‘Xôla’! Idoso, com cerca de oitenta e um anos, não consegue mais andar. Foi encontrado caído e foi levado às pressas para a UPA, onde passou três dias internado.
Tantos anos atrás, antes de morrer, seu tio Mariano previu esse dia e pediu a sua filha Irene para cuidar de Luiz! E assim aconteceu: Irene, sua prima, o acolheu em sua casa, na Rua Tomé de Souza, n° 992, Bairro Nova Santa Cruz e vem cuidando de Zé Leitão!
Esses dias, ele pôs a mão na testa dela e disse: “Tu é um anjo da guarda!” Ela chorou, chorou muito e nos olhos dele também escorreram lágrimas...
O cães (Branco e Xôla) perambulam pelas ruas sem ele, mas não ficam distantes da casa n° 992, onde está o velho amigo. Eles andam, mas no cair da tarde, voltam. Penso que quando fugiu do Hospital da Tamarineira há quarenta anos ele leu ou ouviu o filósofo Bernard Williams, quando disse: “Não há nenhum psiquiatra no mundo como um cachorro lambendo seu rosto”.
Zé Leitão não perdeu a Rua Luíza Mendes, pois a Rua Luíza Mendes é que o perdeu. Hoje, Irene, cumpre, com lealdade, o pedido do pai, e cuida com muitas dificuldades do velho Primo.
Mas, por mais se diga, sua vida é sempre envolta em mistérios e seus dois cachorros, sua prima Irene e ele escrevem uma linda história de amor, de lealdade, de amizade que nos emociona muito, pois é raro, isso é muito raro nos dias atuais.
Santa Cruz do Capibaribe, 13 de maio de 2021.
Texto escrito por Clécio Dias.
Notas:
Irene precisa de fraldas geriátricas e de alimentos, é uma pessoa simples e precisa de ajuda. Quem puder ajudar, pode se dirigir no seguinte endereço: Rua Tomé de Souza, n° 992, Bairro Nova Santa Cruz.
Especula-se que Zé Leitão tenha hoje 81 anos, mas os fatos da sua vida são sempre escassos de informação
Do: Blog Agreste Notícia
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